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CAMPO & CIDADE

Um galo a Asclépio

Sócrates é desses personagens únicos. Essencialmente singular. Ícone de sabedoria. Condenado a tomar cicuta – veneno mortífero – nem aí. Uma tragédia para muitos -, menos para o fundador da hermenêutica. Ou por outra: da maiêutica. Isso mesmo: parto. Parto de ideias. Busca incansável da verdade. A arte de prospectar a luz.

Adepto do peripatetismo circulava com desenvoltura com os discípulos. Ao circular, discutiam. Arguiam. Aqui, acolá, sempre às
calêndulas. “Por quê, mas como, me prove”...querelas intermináveis. Nada escreve Sócrates, apenas transpira. Ou por outra, inspira. Platão usa referenciar o mestre em clássicos como: O Banquete.

Dentre os mestres da humanidade, certamente Sócrates e Jesus de Nazaré, embora não deixassem escritos da própria lavra, fizeram toda a diferença. Os discípulos encarregaram-se de perpetuá-los. Abnegados discípulos. Caso de Buda no além Crescente Fértil. E a mitologia grega, pela abrangência e pela argúcia, certamente, é um capítulo à parte. Em obras como: Mitologia da Abril Cultural – podemos sorvê-la na sua plenitude.

A Grécia, sabemos, abrigou uma plêiade de sábios incomparável. Marco único na história. Filósofos, artistas, cientistas. Sábios às pencas. Pré-socráticos e socráticos. Citá-los, quanto atrevimento: Homero, Tales de Mileto, Heráclito, Parmênides, Zenon, Anaxágoras, Pitágoras, Platão, Aristóteles, Hipócrates, Demócrito, Empédocles, Esquilo, Sófocles, Eurípedes, Epicuro e tantos outros.

Construíram pontes, muitas pontes interligando a cultura oriental ao ocidente que, definitivamente, marcaram a trajetória da civilização. E cá entre nós - sejamos realistas: é muito raro na história da humanidade momentos dessa grandeza. Momento crucial e culminante: praça de Ágora; a democracia exercitada ao vivo. Tête-à-tête. Vis-à-vis.

No campo militar não foi diferente. Alexandre, impetuoso guerreiro, instruído por nada menos nada mais que o Aristóteles - ousa. Desafia. No fio da espada dissemina o helenismo. Une culturas. Aproxima continentes.

Roma quando domina a Grécia, se curva. Reconhece a preponderância cultural. Mestres gregos passam a ser instrutores da juventude romana. Reverencia-os, curvando-se à sua maestria.

Para termos uma ideia da grandeza da civilização grega basta atermo-nos aos Jogos Olímpicos (776 aC.C.), um dos maiores feitos de todos os tempos. No momento das disputas suspendiam-se as guerras entre as cidades bastante comuns dada a rivalidade entre Atenas, Corinto e a Macedônia. Feito tão épico que nem nos dias atuais somos capazes de repeti-lo.

Nas artes, então; a origem de tudo. Na literatura prospectam o drama, a tragédia e a comédia. O teatro ao ar livre, difundem-no. Incentivam. Criam e recriam. Na escultura Fídias imortaliza formas. Na arquitetura, as colunas clássicas: dóricas, jônicas e coríntias espelham a grandeza do belo.

Realmente a civilização grega, ponto de encontro de civilizações, pela primeira vez na história, fez toda a diferença. Entreposto do mundo Atenas brilha.

Quanto à Sócrates, originalíssimo, condenado injustamente por supostamente desvirtuar a juventude, fleumático, antecipa-se. Nada
teme. Constrange, assim os delatores. Ciente do dever cumprido, revela toda sua sabedoria no momento derradeiro. Antes de sorver cicuta chama o fiel escudeiro e faz o último pedido:

- “Não esqueças que devemos um galo a Asclépio”.

Joinville, 30 de dezembro.
Onévio

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